Sunday, October 19, 2014

A Rosa Púrpura do Cairo (1985)



   Comédia romântica, Mia Farrow como protagonista e diversos prêmios de melhor roteiro. Não estou falando sobre qualquer filme de Woody Allen, mas sim um de seus favoritos. 

   Ambientado no interior de Nova Jersey, o filme gira em torno de Cecília (Mia Farrow), uma garçonete casada com um mulherengo desempregado que controla os gastos do casal. A pobre garçonete, cansada de seu trabalho e de seu marido autoritário, se refugia no cinema da cidade. Os filmes da época se distorciam completamente do padrão de vida americano, que viviam o período da Grande Depressão, eram banhados de luxo e davam a sensação de fuga da realidade que a população queria na época. 
   Seguindo em frente, a personagem de Mia encontra-se assistindo pela enésima vez seguida o filme em cartaz, A Rosa Púrpura do Cairo, quando o personagem Tom Baxter (Jeff Daniels), um romântico arqueólogo americano a reconhece na platéia e decide sair da tela do filme para dar a Cecília a vida que ela nunca teve. Os dois se apaixonam, mas a notícia de que um personagem saiu da tela do cinema para o mundo real toma uma repercussão nacional, afetando o ator que o interpretou, Gil Shepherd. As manchetes de jornal e os impactos que poderiam causar na sua carreira fazem com que o artista saia de Hollywood para Nova Jersey em uma tentativa de convencer seu personagem a voltar para o filme. 

Contexto histórico:

   Passado nos anos 30, durante a Grande Depressão, o filme é uma referência ao escapismo que foi vivido na época. Durante a grave crise econômica,  a população americana tentava fugir da realidade correndo para os cinemas, e é nessa situação que encontramos Cecília.  É possível perceber que mesmo nos anos da depressão, o cinema ainda estourava e lucrava milhões de dólares, afinal,  muitos dos centavos economizados pelos cidadãos eram gastados em ingressos.

   Deve ser ressaltada as interpretações de Mia Farrow e de Jeff Daniels, que vive dois personagens. Ambos foram nomeados para prêmios de melhores atores. Mia, que na época mantinha um relacionamento com Woody, ainda viria a trabalhar com o diretor por mais 10 filmes seguidos, em um total de 13 filmes juntos. Jeff Daniels também viria a trabalhar novamente com Woody, mas esse foi o único filme com o diretor que lhe rendeu indicação de melhor ator. Além dos protagonistas, foi uma oportunidade para Allen trabalhar com alguns de seus ídolos da época de sua juventude, como Van Johnson.

   O responsável pela fotografia foi o “Príncipe da Escuridão”, Gordon Willis. Conhecido por suas filmagens noturnas, mais presentes em Manhattan (1979) do que em A Rosa Púrpura do Cairo, foi a sétima e última parceria com Woody Allen. Gordon faz um incrível trabalho fotográfico criando um estilo condizente com o da Grande Depressão, com uma pequena ajuda do set e da época do ano (Outono).

   O filme é imperdível para fãs do cineasta, e uma excelente escolha para quem ainda não o conhece. Típico filme Woody Allen; roteiro premiado, atores frequentes em seus filmes e filosofia pessoal por trás da história. Além disso, um belo exemplo histórico do padrão de vida americano nos anos 30, recomendo também para os amantes da história.

   Vale a pena destacar que o final do filme é triste, pois de acordo com Woody, se houvesse um final feliz, seria apenas mais um filme trivial. No fim, Cecília escolhe a realidade entre a ficção e novamente se decepciona com a vida. Allen queria mostrar através do filme a visão de que a realidade sempre foi um lugar triste para se estar, e faz proveito da Grande Depressão para argumentar a sua tese.